top of page

Os dias entre as paredes do Seminário

Tocam os sinos na torre da igreja. O seu som é a única coisa que quebra o silêncio que impera no Seminário Maior de Braga. Aqui vivem 42 jovens de várias partes do país. Trocam uma vida dita normal por “um apelo” maior, que os leva a viver um dia a dia atarefado, num edifício do século XIX, onde não faltam sequer os tradicionais claustros de um mosteiro.

No Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, em Braga, o dia começa bem cedo. A rotina é a seguinte: os seminaristas levantam-se cedinho, rezam em conjunto, comem, têm aulas, comem, têm mais aulas, comem, voltam a rezar e, pelo meio, têm algum – pouco - tempo livre.

 

Parece repetitivo, mas para os seminaristas esta é a sua realidade. É a realidade que estes 42 jovens, vindos de vários pontos do país, escolheram para a sua vida. Durante cinco anos, vivem no Seminário, respondendo assim àquilo que chamam de “um apelo”. “Já tinha sentido este apelo para mudar de vida há muito tempo, mas imaginava muitos problemas à minha frente”, explica Pedro, um dos seminaristas.

E a verdade, de acordo com alguns destes jovens, é que estar no Seminário não é fácil. Todos os dias, levantam-se bem antes das 7h da manhã para participar na missa. Mais tarde, por volta das 8h, o caminho diário continua ao deslocarem-se a pé até à íngreme Rua de Santa Margarida. Vão para as aulas. Às 8h30 já têm que estar na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, prontos para mais uma longa manhã académica. João conta que chegam a ter “oito cadeiras por semestre”, o que significa que, a partir das 13h, quando terminam as aulas, têm de se dedicar a estudar e a trabalhar para todas essas disciplinas.

Mas as responsabilidades não terminam aqui. Durante a tarde, há várias atividades que ocupam estes seminaristas. Para além das aulas regulares de Teologia e História da Igreja, por exemplo, têm ainda aulas de música e canto de forma extracurricular. “O nosso tempo está assim muito preenchido e, no início, a única coisa em que pensava era em cumprir horários. Tinha que andar quase sempre com um horário atrás de mim e ver se tinha que ir para ali ou para acolá”, conta Francisco.

Por esta razão, ao visitar o Seminário de Braga à tarde, veem-se os longos corredores desertos. Nem no grande salão de jogos, se ouve nada nem ninguém. “O salão está vazio, como sempre - ou quase sempre, vá”, graceja Pedro. Assim apenas as salas de um piso superior estão ocupadas. Aí podem ouvir-se sussurros a sair das portas fechadas. Alguns dos seminaristas encontram-se nas habituais aulas de apoio a latim e grego, enquanto outros estão no momento de direção espiritual. “Este momento serve para aperfeiçoarmos um bocadinho esta caminhada que fazemos com Deus”, explica o mesmo.

Além destas ocupações relacionadas com a sua formação, os jovens do Seminário podem preencher ainda mais o seu tempo ao participar em alguns grupos dedicados a outro tipo de atividades. Jorge, por exemplo, faz parte do grupo de Teatro. É mais um compromisso que assume. “De setembro até dezembro foram quase trinta e tal ensaios de teatro. Tínhamos que preparar a atuação para o dia 8 de dezembro, o Dia da Família, e foram meses de trabalho muito intensivo”, relata com a sua voz cheia, teatral.

Com todas estas atividades letivas, religiosas e extracurriculares, falta-lhes o tempo para serem eles próprios. Pelo menos no início. “Quando entrei para o Seminário não conseguia ser eu, estava só mesmo a cumprir o calendário”, recorda João. “Mesmo agora, ainda custa ter tempo para tudo. Às vezes, tento fazer a minha oração individual à noite, mas chego tão cansado que adormeço a meio”, sublinha, entre risos.

No entanto, apesar das dificuldades, estes jovens persistem. Há quem desista, mas quem aqui está, está porque quer. Os passeios pela cidade e os encontros com os amigos e familiares são tudo o que precisam para perseverar. Isso, a sua fé em Deus e também o “apelo” que os levou a trocar o conforto do lar, por uma comunidade que vive entre as paredes frias e impessoais do Seminário Conciliar de Braga. 

             Em colaboração com Sara Silva e Stéphanie Cunha.

bottom of page