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"Não convém à Igreja ter padres infelizes"

No seminário há cerca de um ano, Pedro Antunes dá a conhecer a sua visão, a visão de um jovem, relativamente à religião. Para si a Ciência e a religião não são incompatíveis, apenas complementam-se, sendo a fé “transcendente a tudo o resto”.

Quem frequenta o seminário tem mesmo que ser padre?

Às vezes pode-se pensar que estar no seminário é sinónimo de ser padre e isso não é verdade. 

O seminário é um tempo de discernimento contínuo, para nós irmos decidindo se é isto que queremos. À medida que os anos vão avançando, vai-se tornando mais sério e temos que estar seguros.

Pode passar-se por uma de crise de fé, que pode ser ultrapassada. Mas também se pode pensar que não é por aqui, que não vale a pena estar a ir por um caminho errado, e mudar. As pessoas são livres.

Não convém à Igreja ter padres infelizes e não nos convém ser infelizes.

Como é que acha que as pessoas veem a fé?

Há pessoas não estão muito seguras da fé que têm, ou tinham – porque foi uma fé que foi transmitida, muito mais cultural do que interior. E vão-se ligando a outras formas de espiritualidade.

E o que é que acontece? As pessoas vão vendo que essas formas não respondem aos seus problemas, que não dão um sentido à sua vida. 

E onde que ficam no meio disso tudo? O que é que fez com que tudo acontecesse? Porque é que tudo aconteceu?

Não estou a perguntar como é que tudo aconteceu. O como a Ciência vai-nos dizendo, através de todas as teorias da origem do universo. Mas todas elas partem do princípio de que já algo existia.

Ou seja, vejo na fé um caminho que é transcendente a tudo o resto.

Então não acha que a Igreja seja incompatível com a Ciência?

Nunca. Bem pelo contrário. A Ciência também pode ajudar a explicar como é que as coisas se passam.

É importantíssimo sabermos como é se deu todo o processo até hoje. Mas a fé dá um sentido às coisas. É preciso a razão, a nossa fé também precisa de razão. E a razão também precisa de fé. Nada é incompatível.

Mas eu acho que a dimensão de Deus criador é transcendente, supera um bocado a Ciência, porque a Ciência nasce já dentro de um universo e só consegue estudar aquilo que existe no mundo.

Há muito por descobrir e a Ciência pode dar um contributo enorme. E a fé vai continuar a ser a fé. E Cristo vai continuar a ser Cristo. E Deus vai continuar a ser Deus.

Como vê a desacreditação da Igreja?

Às vezes corremos o risco de pensar que a Igreja é um conjunto de seres à parte.

Temos de perceber que a Igreja é feita de homens e que os homens também erram. É normal, em qualquer área, que uma dimensão moral do mal esteja presente.

Há muitas pessoas que estão na Igreja e que a querem servir. Mas também há pessoas que se querem servir da Igreja.

Eu acho que quem estiver nas coisas tem que estar de corpo, alma e coração. Tem que ser com transparência, honestidade, fidelidade e frontalidade.

E não podemos julgar o todo pela parte. Se alguém, nalgum sítio, fez determinada coisa, não significa que o todo seja assim.

Como acha que a religião devia ser vista?

No processo de criação do mundo, Deus lançou as bases. Mas quem nos diz que a criação já está feita? Que já atingimos o ideal? As coisas estão-se a fazer.

Nós olhamos para este processo como se olhássemos para uma obra de um escultor, que está a esculpir uma estátua, e ele ainda está a meio de um trabalho e nós já estamos a julgar.

Nós temos de contribuir, porque Deus criou as coisas, enviou-nos o seu Filho para nos dizer o que devemos fazer e qual é a nossa salvação, mas somos livres de seguir esse caminho. Há pessoas que o seguem. Há pessoas que não.

             Em colaboração com Sara Silva e Stéphanie Cunha.

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